Nos mais diversos campos de pesquisa, coletou-se material acerca da história do cangaço e produziu-se variadas teorias sobre ele, entre elas a teoria do banditismo social, desenvolvida pelo historiador Eric Hobsbawm. Há várias interpretações acerca do cangaço, movimento que ocorreu no sertão o Nordeste brasileiro entre os séculos XIX e XX. A maioria delas, interpretações maniqueístas, em que os cangaceiros assumem ou o papel de bandidos, ou o de heróis. Assim como em outras narrativas históricas, a história do cangaço é contada majoritariamente por homens que discorrem sobre a vida dos cangaceiros da época, tendo-se pouca ou quase nenhuma produção acerca da participação feminina no cangaço, em comparação aos estudos acerca dos cangaceiros homens. O presente plano de trabalho objetivou compreender a participação feminina no movimento entre os anos de 1930 a 1938, a partir da entrada de Maria Gomes de Oliveira - que após sua morte ficaria conhecida como Maria Bonita, sendo um marco na história do cangaceirismo. Buscou-se analisar essa participação, as relações de gênero e poder do homem sobre a mulher refletida no cangaço e os discursos sobre essas mulheres, que as mantém numa posição de subordinação e reforçam estereótipos e a opressão de gênero, mesmo que sejam consideradas como transgressoras de seu tempo. Para isso, utilizando-se da pesquisa bibliográfica e documental, em um primeiro momento, buscou-se compreender o fenômeno do banditismo social nordestino e o contexto em que se deu o Movimento Cangaço, bem como suas raízes históricas. Posteriormente, analisou-se as relações e violências de gênero no cangaço, a reprodução do sistema patriarcal em seu interior, assim como os possíveis motivos para que se desse a invisibilização das histórias das cangaceiras. Como resultados, pode-se perceber que escassos são os materiais produzidos sobre as mulheres cangaceiras, que passaram longe de serem as feministas pintadas no nosso imaginário. Muitas delas foram raptadas e estupradas, obrigadas a entrar para os bandos e mais tarde, separadas de seus filhos. Tiveram suas histórias tão invisibilizadas quanto as de suas mães e avós. Nas notícias sobre elas, os escritores preocupavam-se apenas em descrever e menosprezar sua aparência. Parte da dificuldade do estudo se dá justamente por isso. Ao contrário de Dadá, a esposa que o cangaceiro Corisco raptou e estuprou, que deixou sua vida registrada em filmes, livros e entrevistas, a história de Maria Bonita, rainha do cangaço, é contada apenas por terceiros. O mesmo também acontece com as demais mulheres que fizeram parte dos bandos. Toda essa obscuridade construiu a mitificação em torno das cangaceiras, escondendo as constantes violências as quais eram submetidas. Elas tinham, de fato, um caráter transgressor. Porém, o ambiente em que viviam nada tinha de libertador, reproduzindo as relações de violência e dominação masculina típicas do patriarcado, principalmente no que diz respeito ao controle dos corpos dessas mulheres. Dessa forma, o presente trabalho apresenta-se relevante no que diz respeito a possibilitar uma melhor compreensão acerca da presença feminina no banditismo social, fenômeno histórico regional, intrinsecamente conectado à cidade de Mossoró.
Comissão Organizadora
Thaiseany de Freitas Rêgo
RUI SALES JUNIOR
Comissão Científica
RICARDO HENRIQUE DE LIMA LEITE
LUCIANA ANGELICA DA SILVA NUNES
FRANCISCO MARLON CARNEIRO FEIJO
Osvaldo Nogueira de Sousa Neto
Patrício de Alencar Silva
Reginaldo Gomes Nobre
Tania Luna Laura
Tamms Maria da Conceição Morais Campos
Trícia Caroline da Silva Santana Ramalho
Kátia Peres Gramacho
Daniela Faria Florencio
Rafael Oliveira Batista
walter martins rodrigues
Aline Lidiane Batista de Amorim
Lidianne Leal Rocha
Thaiseany de Freitas Rêgo
Ana Maria Bezerra Lucas